Ordens da Ajuda: Como Ajudar Alguém sem se Perder
Você já se perguntou por que algumas tentativas de ajudar o outro acabam causando mais mágoas do que uma sensação de alívio? Ajudar é nobre, porém, para que ambos os lados fiquem bem é necessário bom senso. E é nesse sentido que as Ordens da Ajuda da constelação familiar pode te ensinar muitas coisas.
Na Constelação Familiar existe um conjunto de princípios chamados Ordens da Ajuda que quando seguidos à risca, nos ensinam a auxiliar de maneira prudente e com equilíbrio pois respeita o fluxo natural da vida e as dinâmicas dos relacionamentos sem “passar dos limites”.
Isso porque todos nós temos carências e às vezes projetamos essa necessidade no outro, exemplo: se somos igual “coração de mãe” e sempre tem espaço para mais um, talvez eu queria fazer tanto algo pelo outro que acabarei sufocando ele. Ou então pior: ao não permitir que o outro faça por si mesmo, tiro a dignidade dele, pois atrapalho seu crescimento e desenvolvimento.
Se você quer compreender como oferecer apoio sem gerar dependência ou desequilíbrio este artigo é para você. Aqui, vamos explorar as leis sistêmicas, o campo e os preceitos que regem a verdadeira ajuda dentro da perspectiva Hellingeriana.
Vamos juntas nessa jornada de autoconhecimento e descobertas?
O Que São as Ordens da Ajuda na Constelação Familiar
As Ordens da Ajuda foram estabelecidas pelo alemão Bert Hellinger, idealizador da Constelação Familiar e são baseadas em um entendimento de como funciona o amor (a própria vida em si) e as relações humanas. Ele percebeu que ajudar pode ser um ato grandioso, mas também arriscado quando feito de maneira equivocada.
Essas ordens seguem os mesmos princípios das Ordens do Amor, garantindo que o fluxo de ajuda seja equilibrado, respeitoso e benéfico para todos os envolvidos.
Vamos explorar cada uma delas para que você possa aplicá-las na sua vida?
São elas:
- Dar apenas o que se tem e quando precisar de ajuda, tomar apenas o que se necessita.
- Reconhecer a grandeza e a força do sistema do individuo.
- Ajuda madura, onde o ajudante está posicionado como um adulto diante do outro adulto que o procura.
- O indivíduo faz parte de um grande sistema familiar, não o veja sozinho.
- Acato integralmente a maneira de cada um ser, mesmo que seja diferente da minha.
Acompanhe abaixo mais detalhadamente estes conceitos:
1. A Ajuda Consciente e a Postura Fenomenológica
Dar apenas o que se tem e quando precisar de ajuda, tomar apenas o que se necessita.
A primeira regra das Ordens da Ajuda é ter consciência do que está realmente acontecendo.
Muitas vezes ajudamos sem perceber que estamos interferindo no “destino” do outro. Destino na visão de Bert Hellinger não é o que acontecerá e sim, o que já aconteceu, pois, a pessoa já recebeu tudo o que ela necessitava para se desenvolver: familiares, capacidades, talentos, dificuldades a serem superadas, metas para conquistar, etc.
Um exemplo clássico é quando tentamos “salvar alguém” de uma responsabilidade que ele deva ou precise carregar sozinho pois é necessário para seu aprendizado e ao interferirmos, tiramos essa oportunidade. Aqui entra também o que chamamos de postura fenomenológica, que nos ensina a olhar apenas para o “fenômeno”: aquilo que está acontecendo sem interceder e só observar, sem julgamentos e sem tentar “corrigir”.
Quando somente observamos e respeitamos, permitimos que o campo mostre o que precisa ser visto: assim surgirá uma “imagem ou uma ideia” do que deve ser feito. Ao perceber o que é necessário para a solução a pessoa agirá conforme o que ela consegue fazer: e está tudo bem. Se permito esse movimento dela, eu como “ajudante”, fico livre para ajudar outros que necessitem; porém, se crio expectativas sobre como o “ajudado” deveria agir à essa situação, fico preso me emaranhando a ele e ainda por cima me decepciono.
Gosto de uma frase que aprendi quando fazia Tai Chi Chuan que diz “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”, que entendi como: somente quando se está pronto é possível algum aprendizado e um passo a mais em direção ao novo. Nesse caso, aquele “problema” pode se tornar um “mestre” pois ele nos mostra como agir para dar um passo além, e, consequentemente, deixamos para trás o que já não cabe mais e a roda da vida continua a girar para uma nova fase onde novos desafios virão.
“Como um mestre”… assim deveríamos nos comportar na vida de alguém: não com soberba ou ego inflamado pois há a consciência que possuo algo que a pessoa ainda desconhece. Então, ajo somente como um trampolim: ajudo a pessoa a dar um impulso do tanto que ela precisa e do tanto que ela aguenta, mas o pulo mesmo quem dá, é ela. Em seguida, já saio de cena e observo, aprendo também e fico feliz com aquela conquista (que não é minha); e percebo que já não sou mais necessária. Agora sim, estou livre e a pessoa também.
Outros pontos para refletir:
- Não posso dar o que não tenho e também não devo receber / tomar algo que não preciso
- Quem ajuda e quem é ajudado é beneficiado mutuamente pois há equilíbrio de troca
- Não é conveniente esperar e exigir de outra pessoa o que ela não consegue dar
- Reconheço meus próprios limites e respeito os do outro, mas também renuncio a ajudar quando percebo que vou me emaranhar: a verdadeira ajuda requer humildade
- A ajuda pode causar desentendimentos quando não há uma concordância entre quem ajuda e quem precisa de ajuda. Nem sempre nossa ajuda será desejada: e está tudo bem
2. Respeitar o Destino e a Força do Outro
Reconhecer a grandeza e a força do sistema do individuo.
Você já tentou ajudar alguém que, no fundo, não queria ajuda? Isso acontece porque cada um tem seu destino e sua própria jornada de crescimento.
A segunda Ordem da Ajuda nos ensina que não podemos querer mais para o outro do que ele mesmo deseja para si. Difícil, né? Pois é… No fundo a pessoa só fará o que ela quiser e será um esforço desnecessário da nossa parte gerando insatisfações, chateações e faíscas nesse relacionamento. Internamente é como se fosse a pessoa se sentisse invadida porque ultrapassamos o limite.
Além disso, o ato de ajudar não pode diminuir a força do outro. Se você assume as dores de alguém, é como se dissesse “deixe que eu carrego suas responsabilidades por você” e muito provavelmente, essa pessoa acabará se tornando dependente; e você ficará exausta pois está carregando mais uma vida nas costas: que não é sua.
Outros pontos a considerar:
- Ficar somente como um apoio
- Evitar interferências desnecessárias: se ajudo quando não é apropriado, enfraqueço a mim, ao ajudado e seu sistema, invalidando essa ajuda
- Respeitar o espaço, o tempo e a autonomia de cada um
- Quando respeito o destino e as circunstâncias do outro e concordo com ele, o sistema ganha a força necessária e fluirá livremente com a força da vida, em direção à solução.
3. Dar e Receber: O Equilíbrio Necessário
Ajuda madura; onde o facilitador está posicionado como um adulto diante do outro adulto que o procura.
O equilíbrio entre o dar e receber é fundamental nas relações humanas e é o terceiro princípio das Ordens do Amor. Se ajudamos demais sem permitir que o outro também dê algo em troca, criamos um desequilíbrio, uma instabilidade.
Isso vale para relações amorosas, familiares, comerciais ou profissionais. Quando damos demais sem receber nada em troca ou recebemos desproporcionalmente podemos acabar chateadas ou feridas, ou pior ainda, exaustas. A verdadeira ajuda acontece quando permitimos que a troca aconteça de forma natural e harmoniosa.
Olhar para uma pessoa e ver que ela é capaz e ela também se perceberá apta para tomar uma decisão e fazer a ação que promoverá uma mudança, assim como as ordens da ajuda sugere.
Ser maduro é colocar-se se diante de um indivíduo como um outro adulto, sabendo que este tem possibilidades para modificar sua vida, mas também tem limitações: ele dará um passo de cada vez na medida que estiver pronto. Assim ele pode manter sua dignidade e se sente forte para continuar.
Há duas armadilhas que podemos cair, atenção:
Cabe ao ajudante perceber até aonde pode ir sua ajuda e saber dizer não quando o mesmo passar dos limites, exemplo: quando uma pessoa tem questões mal resolvidas com seus pais e acha que eles deveriam dar “um pouco mais” do que deram, essa pessoa quererá receber esse “mais” de quem está na posição de ajudante e muito provavelmente ela tentará nos manipular para tal (na maioria das vezes é inconsciente).
Uma outra coisa que pode acontecer é quando somo nós as pessoas que temos questões internas a resolver (como problemas de baixa estima, aceitação e controle) e quando vemos a oportunidade de tratar o outro como se fosse “nosso filho” caímos nessa armadilha, portanto cuidado: se tratamos o outro como um coitado (criança), será muito mais difícil para ele e ficaremos presos, sentindo o peso de uma pessoa dependente, pois ela não se desenvolverá e sempre voltará para pedir mais ajuda tornando essa ajuda nós, um fardo.
No Brasil inclusive anos atrás, estava acontecendo um fenômeno de muitos terapeutas ficarem doentes por tamanho envolvimento com seus pacientes, pois “tomavam o lugar de seus pais”, o que atrapalhava à ambos.
O que podemos fazer é incluir esses pais (primeira ordem do amor: pertencimento) e dar um lugar no nosso coração; depois, lembrar que eles vêm primeiro na vida desse individuo (segunda ordem do amor: hierarquia), ficando livre apenas para trocar conosco (terceira ordem do amor: equilíbrio entre dar e tomar). Deste modo, não violamos as leis da vida, as Ordens do Amor, e tudo fluirá livremente.
A solução sempre será focar no fato de que aquele indivíduo e seu sistema tem a total força necessária para se adequar e se restaurar. Quando for ajudar então, apenas ajude de maneira neutra.
4. A Ajuda Precisa Ser Adequada ao Sistema
O indivíduo faz parte de um grande sistema familiar, não o veja sozinho.
Toda pessoa pertence a um sistema familiar e esse sistema tem regras próprias, tais como a maneira de se comportar, agir e se comunicar.
Se ajudamos alguém sem considerar seu contexto (a família ao qual pertence), podemos trazer um desequilíbrio ao sistema e ainda nos emaranharmos a ele.
Assim sendo, cada membro exerce uma função (como elos numa corrente): se rompermos um único elo, a energia dessa família não se moverá e pelo contrário, se dissipará, enfraquecendo-o. Logo, o sistema sozinho tem a força necessária para lidar com aquilo. Portanto, sempre incluir e considerar a todos os membros do grupo.
Imagine uma árvore: para ela estar de pé, viva, produzindo um tronco sadio, galhos firmes, copa frondosa, flores cheirosas, frutos suculentos que carregarão sementes perfeitas, é necessário ter uma raiz forte e saudável.
Não importa em qual solo ela está: a árvore consegue extrair os nutrientes necessários e passar adiante esse alimento, fazendo com que flua desde as raízes até as sementes. Até suas folhas quando caem servem de alimento para o solo, insetos ou microrganismos; bem como sua sombra serve de descanso para muitos; seus galhos ajudam outros seres: passarinhos, insetos, humanos… seus frutos alimentarão por gerações!
Aqui, podemos perceber o quanto as raízes são importantes, tudo deriva dali…
Então, por exemplo, não tem como eu excluir ou ignorar os pais: eles são os mais importantes do sistema! Devemos sempre considerá-los com muito amor e respeitosamente, através deles vieram os ancestrais e virão todos os seus sucessores…
E porque a inclusão de todos do sistema é importante? Porque assim, não ferimos os princípios de “pertencimento” e “hierarquia”. Aliás, talvez a resposta para determinado problema esteja justamente nessa parte que foi excluída…
Respeitando todo o sistema ficamos no “adulto” e saímos da birra da criança que só quer se for do jeito dela, tentando controlar a situação. Sendo adultos, podemos fazer algo de maneira eficaz e eficiente, que harmonizará todo o sistema.
Proponho alguns pontos para meditar:
- Suponhamos um baobá que é um tipo de árvore que segue viva por milênios… quanta coisa este ser pode ter visto e quanto podemos aprender com ele?
- E o que dizer da flor de lótus? Ela nasce em meio ao lodo e sobrevive mostrando uma flor exuberante…
- Cada árvore, planta ou espécie, nos ajudam com sua própria história…
- Dentro de um carocinho de uma única laranja, já existe a possibilidade de um laranjal inteiro… e se fosse com você, o que você faria? E se fosse com o outro, você deixaria? Pense nisso.
5. Como Ajudar Sem se Prejudicar?
Acato integralmente a maneira de cada um ser, mesmo que seja diferente.
A Constelação Familiar é uma ferramenta terapêutica que visa a reconciliação de todos os seus membros. Mas… nessa mesma família tem de tudo: pessoas de boa índole, outras nem tanto; boas histórias, alegres, de superação e também de traições, tragédias e fracassos. Já as consequências serão dadas a cada um ao longo de suas próprias vidas, de acordo com seus atos. Portanto não somos juízes, muito menos justiceiros…
Quando vamos ajudar alguém olhamos para essa pessoa com respeito a sua história, com toda a sua bagagem da sua ascendência e descendência: ela só é o que é pois teve várias experiências dentro do seu clã.
Então, damos as boas-vindas a todo seu clã e também um lugar no nosso coração: ela, as pessoas que ela ama e também aquelas que a incomodam. Um bom facilitador (ou seja, um ajudante) acolhe a tudo e a todos: todos pertencem e todos têm seu lugar.
E se o ajudante enxergar somente as queixas desses “seres malvados” do seu sistema e não enxergar que “o todo” também faz parte?
Simplesmente o ajudante tomará as dores do ajudado… Bert Hellinger já dizia: “Quem só reclama não quer solução… quer apenas um aliado”. Ou seja, a reclamação de nada adianta sem uma ação e somente quando estamos na posição de adultos é que podemos fazer alguma coisa; na posição de criança nada acontece: não temos a força necessária e somos sempre dependentes… das vontades dos outros. Somente com a tomada de uma nova postura é que se pode alterar a jornada e sair da “vítima” e ir para o “adulto”.
É com o tempo que aprendemos a ter um amor incondicional que abarca a tudo e a todos, do qual nos sentimos pequenos diante da grandiosidade da vida.
Dessa maneira, podemos ajudar de coração tranquilo, mostrando um bom encaminhamento para a solução de um conflito, onde seremos um espelho de como agir. Com esse novo olhar e se o ajudado estiver pronto, ele poderá ter uma nova postura de vida e também aprenderá a ser humilde e a agir de forma sistêmica impactando a todos da sua família.
Conclusão
As Ordens da Ajuda são um convite para ajudarmos com sabedoria e sem carregar a responsabilidade dos outros. A Constelação Familiar busca a tomada de consciência para ter uma nova postura diante da vida e quando seguimos esses princípios nossa ajuda se torna leve, humilde e verdadeira.
**Caso queira se aprofundar no tema existe um livro com o título “Ordens da Ajuda” pela editora Atman.
Se você quer saber mais sobre como aplicar a Constelação Familiar na sua vida e aprender a ajudar sem se perder, fale comigo! Clique no ícone do WhatsApp no canto direito e vamos conversar sobre como esse conhecimento pode mudar a maneira como se relaciona e trazer mais harmonia e paz para sua vida.